A importância do tratamento dentário em portadores de HIV é evidenciada em pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. O estudo da cirurgiã dentista Luciana Molin França destaca, entre outros aspectos, a necessidade de maior participação do profissional dentista na equipe multidisciplinar de atendimento a estes pacientes, e o tratamento dentário como instrumento para melhorar a qualidade de vida destas pessoas.
Para realizar a pesquisa de mestrado Importância do tratamento odontológico e de fatores associados na qualidade de vida dos portadores de HIV/Aids, Luciana aplicou o questionário SF-36, normalmente utilizado em pesquisas clínicas na área médica, em 100 pacientes de Ribeirão Preto, atendidos na Unidade Especial de Tratamento de Doenças Infecciosas (UETDI) e no Núcleo de Gestão Assistencial (NGA) da Unidade Básica de Saúde de Ribeirão Preto. “Os pacientes foram divididos em dois grupos. Um era composto de 50 pessoas que receberam tratamento dentário no NGA. O outro grupo, também com 50 pessoas, não recebeu o tratamento dentário. Estes, eram atendidos na UETDI”, conta a dentista.
O SF-36 se mostrou uma eficiente ferramenta de análise. Com o instrumento, foi possível analisar os dados e constatar diferenças estatísticas entre os dois grupos estudados. Uma das conclusões, segundo Luciana, é que o tratamento odontológico sozinho não foi capaz de influenciar na qualidade de vida dos pacientes. “Mas detectamos algumas covariáveis associadas a ele que puderam também exercer influências positivas ou negativas na qualidade de vida dessas pessoas”, ressalta a especialista.
Poucas diferenças
O SF-36 permitiu avaliar oito domínios em relação aos pacientes dos dois grupos: capacidade funcional; aspectos físicos; dor; estado geral de saúde; vitalidade; aspectos sociais; aspectos emocionais; e saúde mental. Entre estes aspectos, as únicas diferenças entre os dois grupos foram nos domínios dor e vitalidade. “Achamos estranho apenas estas diferenças. Estudamos então, as covariáveis, como sexo, trabalho, carga viral do vírus, CD4, uso de antiretrovirais, tabagismo, etilismo e drogadição”, lembra a pesquisadora. A pesquisadora cruzou as covariáveis com os domínios do SF-36.
Luciana relata que, por intermédio de algumas características da doença, o profissional dentista pode ser capaz de auxiliar no diagnóstico do HIV/aids. “O atendimento a um paciente com Aids não é mais complexo que o de uma pessoa sem a doença. Mesmo assim, ainda há um certo estigma por parte de alguns profissionais”, lamenta. A pesquisa iniciada em 2008, sob orientação da professora Alcyone Artioli Machado, do Departamento de Clínica Médica da FMRP também revela a precariedade do sistema público de saúde em relação ao número de dentistas para o atendimento às pessoas com HIV/aids. “Aqui em Ribeirão Preto, por exemplo, na UETDI e no NGA há apenas duas dentistas, uma para cada unidade de atendimento”, revela Luciana.
Fonte: Agência USP
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